Estamos ensaiando os primeiro passos do século XXI e muitas transformações já ocorreram, estão ocorrendo ou estão por vir.
Dentre as mudanças mais significativas, que estamos testemunhando, podemos destacar as modificações no mercado de trabalho e as expectativas lançadas sobre o papel do novo trabalhador.
Talvez a grande maioria da população mundial não esteja atenta para o fato de que, neste exato momento, estamos vivenciando uma verdadeira revolução no trabalho, sem precedentes, e que a globalização da economia tem sido o grande combustível a alimentar e acelerar todo esse complexo mecanismo. Os modos de produção taylorista e fordista vivem seus estertores. A imagem da fábrica cinzenta com seus operários executando tarefas repetitivas e alienantes, ao longo de uma esteira rolante, em uma linha de produção fatigante e massiva, cujo sucesso dependia em parte da velocidade de seus executores e do número de horas trabalhadas, começa a adquirir em nossas mentes e do número de horas trabalhadas, começa a adquirir em nossas mentes aquela tonalidade pastel com que, normalmente, costumamos tingir nossas lembranças mais remotas.
Vivemos uma era de transição de uma economia de produção para uma economia de serviços. Isso significa dizer que o número de trabalhadores intelectuais, que prestam serviços, vem superando, a cada momento, o número de trabalhadores do setor do setor industrial e agrícola. São estes os setores responsáveis pela mecanização, caracterizados pelo trabalho braçal de toda uma época da economia mundial, a qual designamos de sociedade industrial.
O trabalho mecânico vem sendo mais e mais substituído por aqueles maquinários tecnológicos e natimortos que aprendemos a chamar de robôs. Colocamos à parte as polêmicas suscitadas por seu advento e o desemprego que tem causado nesta fase de restruturação dos modos de produção, devemos chamar a atenção para o fato de que o homem começa agora a se libertar do trabalho sem significação, sem inspiração e amor que, caso assim não fosse, poderia ser executado por máquinas programadas.
Caminhamos a passos largos para uma sociedade onde observamos o crescimento sustentado de uma camada de trabalhadores, advinda principalmente de uma classe média bastante heterogênea, na qual encontramos artistas, produtores agrícolas não latifundiários, pequenos e médios empreendedores e, principalmente, intelectuais com capacitação técnica (advogados, médicos, economistas). Para essa camada, o poder reside no saber e não naquilo que possuem, pois o saber advém não apenas do ensino formal, mas também daquele que surge das superações das dificuldades enfrentadas no cotidiano, e que faz do homem simples um grande sábio.
Há quem chame esta nova etapa da economia mundial de “sociedade pós-industrial”. Uma era em que a maioria dos trabalhadores não terá mais que lidar com produtos materiais oriundos de sua produtividade, como ocorria no interior das grandes fábricas ou fazendas. O resultado final dessa nova forma de produzir é a informação e o conhecimento originados de ideias imateriais.
Os postos de trabalho, criados de agora em diante exigirão que as pessoas pensem, criem, se inspirem se emocionem, raciocinem, opinem, discordem, se apaixonem, detestem; enfim, que tenham um trabalho verdadeiramente humano, que só pode ser concebido pelos que possuem mentes e corações, cognições e sentimentos.
Tal trabalho não depende, necessariamente, do número de horas trabalhadas e, muito menos, do esforço físico empregado. Ele depende da inteligência, seja racional, emocional ou social, e da intuição, qualidade que, por mais que o homem tente, jamais conseguirá conceder a qualquer máquina. Esse trabalho não precisará de “mão-de-obra”, mas sim de mentes, corações e, também, de mãos talentosas, integradas em um ser humano completo e único, que, finalmente, poderá ver significação em seu trabalho e crescer com ele.
Dessa maneira, podemos antever que as pessoas criativas tenderão a ter papel mais expressivo e determinante no mercado de trabalho dos tempos pós-industriais.
Um exemplo de tal cenário já está em gestação no mercado nascente da internet. Empresas ligadas à grande rede, à implementação de projetos, criação e design de sites, jogos e softwares geralmente apresentam uma característica de informalidade em seu ambiente de trabalho. Vestimentas não tão formais, liberdade de locomoção, horários mais flexíveis e um ambiente que tente prover ao máximo o bem-estar e a sensação de “estar em casa” tem sido a tônica nessas empresas, mesmos após as recentes crises envolvendo a economia da internet, derivadas, principalmente, da tentativa de tornar a grande rede um espécie de shopping virtual, esquecendo-se da sua potencialidade como meio de comunicação, difusor de cultura, entretenimento e arte.
O ar puro, que começa a invadir o futuro mercado, envolverá sedutoramente, profissional das mais diversas áreas, ávidos por se sentirem valorizados e livres de pré-conceitos. Serão atraídos pelo espaço que terão para respirar, sonhar e criar.
Cabe, no entanto, lembrar aos “fiscais da natureza” e aos viajantes de plantão que não se trata de uma oficialização de suas desocupações. Estamos falando de criar, plantar e colher frutos e, para tanto, é necessário manter um sistemas de organização.
Extraído do livro 'MENTES INQUIETAS'